sábado, 29 de novembro de 2025

«Dieta da Poesia» — Um livro para ler e trabalhar com...

Neste texto, inserido no livro “Dieta da poesia”, Afonso Cruz explora, entre outros temas, aquela ideia de que a forma mais fácil de nos libertarmos de um vício, que nos prejudica, é trocá-lo por outro que seja inócuo: “sempre que tiveres vontade de… bebe um copo de água”. De uma forma divertida, apresenta, através da voz de Bazulague, personagem do livro, uma receita para emagrecer ou engordar com óptimos resultados, como atestam os comentários dos muitos que aderiram a este método dietético.

Segue-se a reprodução da dieta. Quem sabe, talvez seja remédio para nos libertarmos de outros vícios?

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DIETA DA POESIA

A dieta da poesia, criação do poeta de Lousada, o Bazulaque, consiste em refinar a perceção que emanamos, ao mesmo tempo que nos permite definir os abdominais. Ou até engordar, se for essa a intenção de quem aderiu a este eficaz e sublime método dietético.

A dieta é muito simples e exige apenas estes dois elementos:
1) Reconhecer o momento de tentação ou gula.
2) Ter sempre consigo um livro de poesia.

No caso de pretender perder peso, a dieta promete um emagrecimento de três a cinco quilos por mês, ou mais, no caso de leitores compulsivos, e ainda assegura o verdadeiro desiderato desta dieta: uma aura poética, ou seja, um incremento da beleza ou graça. Qualquer pessoa que siga esta dieta ficará, como comprovam todos os estudos, muito mais bonito e atraente. Caso queira ser gordo ou ainda mais gordo, o processo é igual, só não tem de substituir comida por poesia, terá, isso sim, de ler enquanto come. Quanto mais gostar de poemas, mais pesado ficará. Quanto mais gostar de comer, mais lerá. O valor da dieta mantém-se: o seguidor desta prática dietética ficará mais bonito e mais atraente, independentemente da massa corporal ou de qualquer transformação física, ficando absolutamente leve, por mais que a balança diga o contrário.

Resumindo, para emagrecimento: cada vez que tiver fome, especialmente entre as refeições, em vez de comer uma bolacha ou um salgado, leia um poema.
Sempre que sentir vontade de comer um chocolate, abra o livro e leia um poema.
Quando sentir vontade de emborcar uma travessa de batatas fritas, em vez disso, abra o livro e leia um poema. Sempre que se sentir tentado a comer alguma coisa entre as refeições, especialmente comida processada, hidratos de carbono, gordura trans ou nutrientes brancos, não coma, pegue no livro e leia. Os resultados são im-pressionantes. Leia, pela sua saúde.

Caso não pretenda emagrecer, mas engordar, ou caso engordar ou emagrecer sejam irrelevantes: coma sempre que quiser, mas acompanhe a comida com poesia. Leia, pela sua beleza.

TESTEMUNHOS

"Enquanto nos vai caindo a capa da beleza da juventude, quando ela existe, a leitura vai aumentando. Os leitores vão ficando pior nos peitorais ou na firmeza das nádegas, mas mais sábios e belos. Quem não lê só vai ficando pior nos peitorais e na firmeza do rabo."
Maria Antónia, de Macieira

O senhor Silva, taxista de Nevogilde, já não tem colesterol mau. E, no seu trabalho, passou a, juntamente com o troco, citar William Carlos Williams.

"Quanto mais gulosa for a pessoa, mais erudita fica. Não é só o coração e as artérias que agradecem, é todo o meio cultural e, por consequência, a humanidade."
Olívia, de Torno

"Fantástico! Ao fim de um mês tinha perdido cinco quilos e estava íntima de Dylan Thomas."
Sílvia, Caíde de Rei

A poesia tem consequências também noutras áreas. O senhor Almeida, de Lustosa e Barrosas, tornou-se um pintor famoso. Ao ler um verso de Mario Quintana, que dizia "Por que ainda ninguém se lembrou de pintar uma mulher nua de óculos?", começou a pintar mulheres nuas de óculos, tendo criado um estilo com milhares de seguidores."

O Fernando Pessoa fez-me muito mais bonita!!!"

Carla Antunes, Nespereira e Casais

A senhora Maria Emília, doméstica de Sousela, não só ganhou peso como passou a viajar pelo mundo todo a dar conferências em universidades sobre poesia concreta.

"Absolutamente eficaz. Voltei a ter a barriga de há vinte anos e ao mesmo tempo sou capaz de dizer poemas em festas (o que de algum modo me tem dado a sensação de que tenho perdido amigos)."
Manuel Gomes, Aveleda

"Estou muito mais magro, mais elegante, mais saudável. Nunca pensei que Paul Celan tivesse um efeito tão pronunciado no corpo."
Rafael Egídio, de Lodares

"Desde que comecei a dieta já dormi com muitos poetas lindíssimos. E o meu marido também."
Patrícia Rebelo, Figueiras e Covas

"Oh! Como ler Silvia Plath me fez as pernas bonitas."

Silvino Araújo, Lousada

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