Os limites do verso e as marcas no seu interior [pontuação] marcam o ritmo da leitura — a aproximação à "pontuação oral", que a pontuação escrita apenas consegue de forma imperfeita. E porque a poesia é anterior ao aparecimento da escrita, só pela aproximação da leitura à "fala natural" é possível ultrapassar aquela imperfeição [quando existe] na leitura do poema — se bem que falar de aproximação à "fala natural", relativamente à leitura de poemas, não pareça fazer muito sentido, porque o poema não nos pede uma "fala natural" [já que ninguém fala como fala quando diz um poema], mas aquela que as condições do nosso encontro com o poema nos levam a produzir.
Trata-se, no dizer de António Fonseca, de reescrever a falação do poema, reescrever-lo na fala «que é um sítio muito mais antigo de comunicação do que a escrita. (...) reinventar na fala, no corpo, ao vivo, o que foi escrito»*. [sobre este tema ver: «A gente lê tudo seguido, não quer saber do verso p’ra nada» >>>].
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