quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Ora (direis) ouvir estrelas

Ensaiar a voz a dar a um poema. Discutir se devemos aceitar [ou não], as indicações de leitura que a sua forma e pontuação sugerem, através de três leituras.


Os limites do verso e as marcas no seu interior [pontuação] marcam o ritmo da leitura — a aproximação à "pontuação oral", que a pontuação escrita apenas consegue de forma imperfeita. E porque a poesia é anterior ao aparecimento da escrita, só pela aproximação da leitura à "fala natural" é possível ultrapassar aquela imperfeição [quando existe] na leitura do poema — se bem que falar de aproximação à "fala natural", relativamente à leitura de poemas, não pareça fazer muito sentido, porque o poema não nos pede uma "fala natural" [já que ninguém fala como fala quando diz um poema], mas aquela que as condições do nosso encontro com o poema nos levam a produzir. 

Trata-se, no dizer de António Fonseca, de reescrever a falação do poema, reescrever-lo na fala «que é um sítio muito mais antigo de comunicação do que a escrita. (...)  reinventar na fala, no corpo, ao vivo, o que foi escrito»*. [sobre este tema ver:  «A gente lê tudo seguido, não quer saber do verso p’ra nada» >>>].


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* António Fonseca, "Ora cá está", in Os Lusíadas como nunca os viu, Caleidoscópio - Edição e Artes Gráficas. 2016

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